quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

CADA UM É COMO DEUS O FEZ

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O mundo conhecido tem entre 7 e 8 mil milhões de almas, todas com cabeça — é muita cabeça. Curiosa e espantosamente, não há duas cabeças iguais. Quer isto dizer que cada cabeça funciona de forma única e faz coisas que nenhuma outra faz. Por exemplo, tenho a certeza que há quem comece a ler os livros de Sócrates de Vilar de Maçada, mas também tenho a certeza que todos os deitam no papelão do lixo quando vão numa palavra diferente de um qualquer dos capítulos.
Portanto, havendo em cada momento deste mundo quase 8 mil milhões da cabeças a fazer coisas diferentes, que razão há para nos admirarmos com isto ou aquilo que este ou aquele faz? É que o número de coisas normais fazíveis simultaneamente tem limite; o resto tem de ser, pelo exposto, coisas anormais.
Vem isto a propósito de uma notícia que li hoje: um homem, no Árctico Russo, roubou um veículo militar blindado, "de lagartas", e arrombou com ele uma loja de bebidas para roubar uma garrafa de vinho. E daí? Podia estar a escrever um livro intitulado "A Confiança no Mundo - Sobre a Tortura em Democracia"; a caçar gambuzinos; ou a catar piolhos com luvas de boxe. Cada um é como Deus o fez e muitas vezes até pior, dizia Cervantes. Aí está: uns roubam tanques para se emborracharem, outros escrevem livros para papel de embrulho.

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