terça-feira, 12 de setembro de 2017

LABIRINTOLOGIA OU A ARTE DE SAIR DOS LABIRINTOS

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.Luís Menezes Leitão escreve no jornal "i" e — é evidente — não gosta de Marcelo. São colegas na Faculdade de Direito e ele lá sabe porquê. Eu não sei, nem quero saber. Mas, descontando algum parti pris que deve existir em Menezes Leitão, muitas vezes acerta na mouche. Hoje, por exemplo, explana assim sobre o Presidente:
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Marcelo Rebelo de Sousa passou quinze anos na televisão a preparar pacientemente a sua candidatura presidencial. Quando foi finalmente eleito, decidiu que passaria os cinco anos do seu mandato também a preparar pacientemente a sua reeleição. É assim que a sua presidência tem sido uma campanha eleitoral permanente, com banhos de multidão, abraços, selfies, etc., etc. No âmbito dessa estratégia eleitoral, chegou à conclusão de que tinha que ter também o apoio da esquerda, razão por que passou a andar com o governo de António Costa ao colo. É assim que Marcelo tem deixado o governo e a sua maioria parlamentar de mãos totalmente livres, não havendo memória de, por exemplo, ter mandado um único diploma para o Tribunal Constitucional. Em contrapartida António Costa tem dado todo o palco a Marcelo para o anúncio e a comemoração das boas notícias que têm surgido, quer na área económica, quer até nos êxitos desportivos.
O problema é que, na sua impetuosidade, Marcelo exagerou no seu apoio ao governo. Foi assim que, perante o incêndio de Pedrógão Grande, garantiu imediatamente que se tinha feito tudo o que era possível e cobriu a posterior ausência de António Costa em férias. Da mesma forma, foi a correr a Tancos ao lado do Ministro da Defesa, passando uma mensagem de apoio a um ministro em dificuldades. E perante as sucessivas notícias que demonstram o colapso do Estado nas áreas essenciais da administração interna e da defesa, Marcelo tudo tem feito para salvar o governo, chegando ao ponto de apelar a uma trégua política nas eleições autárquicas, querendo esvaziar assim a luta política no seu período mais essencial.
Como é óbvio, a consequência disto foi que os partidos do centro-direita passassem a ver o Presidente, não como um árbitro, mas como um opositor. Tal a princípio não incomodou Marcelo, que se considerou escudado na popularidade do governo. As coisas mudaram, porém, com as últimas sondagens que demonstraram o governo em queda. Aí Marcelo foi logo dizer, mesmo em Andorra, que também costumava virar à direita, ainda que cá ninguém tenha até agora dado por tal. Acrescentou ainda que ninguém poderia fazer oposição “ao Presidente que ama todos os portugueses” e que até tem uma “popularidade de 80 e tal por cento”, a não ser “alguém muito distraído”. E, como num coro de orquestra, no PSD começaram logo a surgir os comentadores de serviço, a pedir que Passos Coelho se abstivesse de atacar o Presidente.
Em 1976 Sá Carneiro foi o primeiro a propor a candidatura presidencial de Ramalho Eanes, que depois foi eleito com 61% dos votos, mas não hesitou em combatê-lo politicamente a partir do momento em que este passou a atacar o PSD. Marcelo escolheu uma trincheira de combate político ao colocar-se totalmente ao lado da geringonça, acabando assim por ligar irremediavelmente a sua presidência ao destino desta. A menos que alguém consiga fazer eleger um homem de palha no PSD, não me parece que algum líder do partido, seja o actual ou outro, deixe de considerar Marcelo como um opositor. O Presidente enredou-se num labirinto de onde já não consegue sair.

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Está tudo certo, excepto a última frase. Marcelo é especialista em sair de labirintos. Quando necessário, se for caso disso, abate a geringonça, faz-lhe o funeral com todos os rituais litúrgicos e explica à Nação a premência que era acabar com tal organização contra naturam. E fica com a mesma cara.

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