terça-feira, 21 de abril de 2015

MUDAR ADAPTAR OU MORRER

.
Prevalece a ideia que o problema da conservação das espécies é muito grave, fruto de títulos do género "Animais Amorosos Ameaçados pela Extinção"género que apela ao sentimento, e por isso atrai leitores, mas definitivamente bacoco. Há cerca de milhão e meio de espécies conhecidas—e provavelmente quatro milhões desconhecidas—e em perigo de extinção conhecem-se 23.214, uma gota de água num oceano.
Sobrestimar a extinção faz cachas, mas é demagogia, tout court. Reduzir o conservacionismo biológico à tutela das espécies em extinção é como reduzir a Medicina ao cuidado dos moribundos. Muito mais importante é cuidar dos ecossistemas cuja saúde está ameaçada por incontáveis razões, entre as quais se conta a própria depleção de espécies necessárias ao equilíbrio ambiental.
Diz-se que estamos na antecâmara da Sexta Extinção em Massa, depois das cinco históricas que eliminaram 70% ou mais das espécies da época. Se todas as espécies ameaçadas actualmente (23.214) desaparecerem nos próximos séculos e se a taxa de extinção se mantiver inalterada, pode acontecer que a Sexta Extinção venha aí. Mas com a atenção que o problema merece actualmente, é pouco provável.
Mais que tratar de espécies moribundas, é preciso cuidar das que ainda têm saúde, corrigindo factores ecológicos—alguns consequência da actividade do Homo sapiens—que as podem ameaçar. Por exemplo, há espécies em perigo vítimas de predadores, como ratos, cobras e porcos, introduzidos pelo homem em ilhas e outros territórios onde quebraram o equilíbrio biológico. O pagaio kakapo da Nova Zelândia, que nidifica no solo, quase foi extinto pelos ratos que o homem levou para lá e comiam os ovos da ave. A desratização escrupulosa do território salvou a espécie. Coisas assim estão a ser feitas com êxito por todo o mundo, incluindo os oceanos. A regra é: espécie ameaçada num habitat, ou muda de casa, ou se adapta, ou morre—não tem muita escolha. O homem pode fazer muito por ela e está a fazer: mais do que se imagina. Infelizmente, ambientalistas, conservacionistas e fadistas parecem-se muito: não arregaçam as mangas e metem mãos à obra—só cantam. E cantam alto!

Sem comentários:

Enviar um comentário