domingo, 26 de abril de 2015

'MENU ENGINEERING'

.

A lista de um restaurante como deve ser não é coisa fácil de elaborar.  Se está a pensar que se põe do lado esquerdo o nome dos pratos, depois uma linha de pontos à frente de cada um e a seguir o preço do lado direito e está feita, está enganado porque não está feita; ou está mal feita. Tal e qual.
Já ouviu falar em consultores de restaurantes? Provavelmente já. Mas não sabe talvez que há alguns dedicados só à feitura das ementas. Para ter uma ideia, vou dar alguns pormenores que me explicaram, antes de me tornar também um especialista; mas só alguns porque a matéria é mais complicada que Mecânica Quântica.
Para começar, fique a saber que listas com muitos pratos é asneira. Criam o chamado paradoxo da escolha; ou seja, quanto mais há para escolher, mais difícil é escolher e isso faz ansiedade. Está a ver? Idealmente, não deve ir além de 7 pratos, mesmo tendo capacidade para servir mais de 70, diz Gregg Rapp, engenheiro de menus (há disso). O McDonald's começou com poucos e agora tem 140—as vendas desceram 11% no primeiro trimestre deste ano.
Depois é preciso usar fotografias boas, por exemplo para as saladas. Se não as puser lá, poucos se lembram delas e são coisa de grande rendimento. Mas não se pode abusar das fotografias: muitas é pior que péssimo.
Depois os preços. Nunca escrever qualquer símbolo que lembre dinheiro. Por exemplo, €10,00 é burrice! A comida não tem nada a ver com dinheiro: custa 09.99 e mais nada (nem dracmas, nem talentos, nem escudos, euros, ou piastras—09.99 simplesmente. E o preço não deve estar no fim de uma longa linha de pontos, do lado direito. Figura logo ao lado do nome do prato. Por exemplo: Cabrito assado no forno com batatinhas a murro, arroz branco agulha e grelos salteados com alho alentejano - 09.99. Assim mesmo, ainda que o alho seja galego. Se o preço está longe do prato, as pessoas percorrem a lista dos preços e então é que vão ver a que prato corresponde o preço mais baixo,ignorando os outros—não falha.
Aliás, falando ainda de preços, é bom começar com uma lagosta qualquer a 120 euros ou mais, que nem é preciso ter porque ninguém escolhe mas dá muito conforto a quem encontra abaixo pratos a 10, 15 ou 20 euros.
A seguir temos o canto superior direito da folha. É o local privilegiado para a publicidade nos jornais e revistas e para "embarretar" clientes nos restaurantes: tudo que é lixo caro deve ficar aí.
Finalmente, para terminar porque isto não é uma aula de Menu Engeneering (para isso cobro honorários), vem a conversa. A galinha não é galinha porque é galinha ou galo do campo, a couve é portuguesa mesmo que fale castelhano, e as batatas não são batatas porque são batatinhas. Exactamente! Outro dia explico mais.
.

Sem comentários:

Enviar um comentário