domingo, 20 de outubro de 2013

ENTRE ASPAS

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[...] "Jorge Sampaio, no estilo críptico que desenvolve há sessenta anos, ofendeu-se sobretudo com o desrespeito do sagrado Tribunal Constitucional e pediu 'um assomo patriótico', o que quer que isso seja. Mário Soares falou dos 'delinquentes' no poder e confessou temer que 'o ódio do povo se torne violento', formulação que numa cabeça matreira e pouco sofisticada significa que espera com impaciência a sublevação das massas." [...]

[...] "O Governo é mau? É, sim senhor, embora por não cortar onde devia e não pelos motivos que o Dr. Soares e o Dr. Sampaio sugerem. O Governo é ilegítimo? Não é, não senhor, excepto na opinião de criaturas como o Dr. Soares e o Dr. Sampaio, para quem a legitimidade advém da coincidência entre os titulares dos cargos e as suas simpatias pessoais. Simular preocupação com a 'pátria' ou o 'povo' para tentar impor as simpatias é estrategicamente compreensível. Mas é também uma trapaça.
Não me lembro de ouvir o Dr. Sampaio reclamar 'assomos' enquanto o Governo anterior inscrevia a pátria na sopa dos pobres europeia. E sou capaz de jurar que, nesses gloriosos tempos, nunca o Dr. Soares avisou para os riscos da plebe indignada. A verdade é que ambas as alminhas citadas representam com brio o ramo do pensamento filosófico lusitano segundo o qual a 'direita' (ou o que em Portugal passa por direita) moralmente não merece mandar. Se o povo real e bruto decidiu assim, há que imaginar um povo iluminado capaz de decidir assado e correr com a 'direita' à bordoada.
Por enquanto, trata-se apenas da imaginação de dois antigos presidentes da República, felizmente para nós e, no fundo, felizmente para eles: nem sempre a fúria popular pendura uma comenda no pescoço dos respectivos instigadores. Às vezes, limita-se a uma corda." [...]
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Alberto Gonçalves in "Diário de Notícias"
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