terça-feira, 28 de maio de 2013

EU PLAGIO, TU PLAGIAS, ELE PLAGIA

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O "Oxford Dictionary of English" diz que plágio é a apropriação do trabalho ou das ideias de outrem e fazê-las passar como sendo nossas.  Fui buscar isto porque li no "Telegraph" que Kipling teria plagiado a ideia da lei da selva do "The Jungle Book". Interrogado na altura sobre a matéria, Kipling terá dito que talvez se tenha servido da ideia, mas já nem se lembrava onde a tinha encontrado.
Chegados aqui, a questão começa a fiar mais fino. Na literatura, há ideia e forma. É vedado ao autor usar a ideia de outro com forma diferente? Por exemplo, contar a história da "Nau Catrineta" em prosa? Ou converter um naco de boa prosa em poema? Na "Correspondência de Fradique Mendes", Eça escreve ... em todas as raças, ou divinizando as forças da Natureza, ou divinizando a Alma dos mortos, as Religiões, amigo meu, consistiram sempre praticamente num conjunto de práticas, pelas quais o homem simples procura alcançar da amizade de Deus os bens supremos da saúde, da força, da paz, da riqueza.  Não dava isto para um belo poema nas mãos dum vate inspirado? Claro que sim! E era plágio? É complicada a resposta.
Se o poeta tivesse presente onde tinha ido buscar a ideia, ficava-lhe bem referi-lo. Mas, muitas vezes, já não tem pálida noção de tal e está desculpado se não referir. Não é grave.
Na realidade, a originalidade do autor não depende tanto da história que conta como da forma como a conta. Ler uma ideia decalcada de Eça numa peça de Baptista Bastos não é grave. Não tem mesmo importância nenhuma. Só que a primeira é boa e a segunda será, seguramente, uma trampa. Não há qualquer plágio.
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Nota—O atrás vertido respeita ao plágio literário, não ao plágio académico.
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