sexta-feira, 16 de novembro de 2012

NOW WHAT ?

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Dois caçadores andam no campo e subitamente um deles cai para o lado sem respirar. O companheiro alarmado pega no telemóvel, liga para o serviço de emergência e, enervadíssimo,  berra para o operador: o meu companheiro está morto. O operador recomenda-lhe calma, diz-lhe que o vai ajudar e acrescenta: a primeira coisa a fazer é certificar-se que o seu companheiro está de facto morto. Segue-se um silêncio, depois do que o operador ouve um tiro e a seguir, de novo, o caçador: OK, já está. Que faço agora?
A piada tem humor—embora negro—e ilustra um fenómeno psicológico comum no dia a dia que é o tipo de explicação dada a outras pessoas quando nos pedem uma informação. No caso relatado, as personagens não estavam a interpretar a conversa da mesma maneira. Embora as coisas tenham sido levadas até ao absurdo, o comportamento do caçador não esteve completamente fora do discurso do operador.
Por exemplo, quando damos informações sobre a localização duma rua, ou loja, centro comercial, blá, blá, blá, habitualmente a descrição do trajecto só servia se o interlocutor soubesse coisas que nós sabemos e ele desconhece. Referimo-nos à loja do chinês não identificável facilmente, ou à rua à esquerda quando há várias ruas à esquerda, ou ao quiosque que não tem nenhum aspecto de quiosque e por aí fora.  O exemplo típico em Portugal é a sinalização nas estradas dos acessos a determinados locais, muito clara para quem conhece a região, mas totalmente opaca para quem não conhece. Tais indicações deviam ser feitas por quem não reside na área.
O fenómeno referido, característica psíquica chamada coloquialmente "maldição do conhecimento", consiste em não nos apercebermos do modo como as pessoas que não conhecem determinado aspecto do mundo—que nós conhecemos—vêem esse aspecto. Explicações como "a meio dessa rua", ou "junto da pequena porta vermelha", fazem todo o sentido para nós, mas não para quem não conhece a zona. E é aqui que reside o segredo do bom professor—explicar sabendo o que se passa na cabeça do aluno, ou seja, evitando a "maldição do conhecimento".
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Tema interessante que pode ser lido com mais pormenor aqui.
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