terça-feira, 24 de maio de 2011

O PARTIDO-REGIME

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[...] Ao princípio, foi a descida da taxa social única. Serviu de prova do radicalismo ideológico do PSD, até Loução lembrar que o PS também subscreveu a mesma proposta no acordo com a troika. Depois veio a privatização da água. Outra comoção. Era preciso mais para desnudar a “irresponsabilidade liberal” do PSD? Não era, até o “Público” descobrir que, há dez anos, Sócrates e o saudoso Mário Lino planearam, com todo o detalhe, a privatização da água, a favor da britânica Thames Water. [...]
[...] Um partido destes corresponde a uma velha convicção da nossa cultura política: a de que debates ou divisões são, em Portugal, atalhos para a guerra civil, ou a perda do regime vigente, e que por isso o poder deve ser confiado a quem, com jeito, saiba mediar, combinar, procrastinar, confundir. [...]
[...] A propósito da água o inimitável Lino deu a entender que a “entrada de um ente de direito privado, com capitais privados, no capital” de uma empresa pública é “privatização” quando envolve o PSD, mas “parceria estratégica” quando implica o PS. Humpty Dumpty não diria melhor. [...]
[...] Por tudo isto, a possibilidade de o PS ser afastado do poder nas próximas eleições tem um significado muito para além de qualquer rotação partidária. Poderá, na melhor hipótese, ajudar à refundação do sistema político em Portugal, mais do que todas as reformas eleitorais ou revisões constitucionais até hoje imaginadas. Mas, pelo menos, talvez nos leve a reflectir que uma privatização é apenas isso, uma privatização, independentemente de quem a faz, e não um crime.

Rui Ramos in “Expresso”

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