quinta-feira, 31 de março de 2011

A ARTE DA PROSA

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Venceslau Taveira nasceu na comarca de Lamego em 1795. Como filho segundo de casa vinculada, foi destinado desde o berço a frade crúzio ou beneditino. Estudou humanidades em Coimbra, e entrou, portanto, a noviciar na casa capitular de Tibães aos quinze anos.
Findo o ano de prova, o profitente interrogado manifestou que lhe faltava génio e fé para ser frade como cumpria.
Fr. Francisco de S. Luís, então conventual em Tibães, e, mais tarde, bispo, ministro liberal, patriarca e cardeal, saiu em defesa do noviço contra as violentas persuasões dos monges escandalizados da impiedade de Venceslau.
Não ter fé! Era a primeira vez que um noviço ousara dizer que não tinha fé! Que ele não tivesse virtudes, vá; que muito frade se salvou sem elas, graças ao hábito que faz o monge e à contrição final que faz o santo; mas não ter fé!...
Sem impedimento destas e outras razões dos frades escandalizados, argumentava o sábio beneditino que era desprimor notável para a religião o acorrentarem-lhe ao altar os seus sacerdotes; que o descrédito das ordens monásticas havia sido motivado pelo vicioso proceder dos frades constrangidos; e que, finalmente, ninguém esperasse que a violência abrisse à luz da fé corações fechados e escurecidos pela dúvida.
Camilo Castelo Branco in “Livro de Consolação”
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