terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

KADAFI SEGUNDO FISK


Robert Fisk é jornalista do jornal ‘The Independent’ há muitos anos e conhecedor profundo da realidade dos países árabes. Hoje publica um curto texto engraçado sobre Kadafi. Aqui vai, depois de tradução apressada.
Então, até a velha e paranóica raposa da Líbia – o pálido, infantil, ‘bochechas caídas’, ditador de Sirta, possuidor de guarda pretoriana própria só de mulheres, autor do ‘pré-póstumo’ Livro Verde, que um dia anunciou a sua ida à cimeira do movimento dos Não-Alinhados em Belgrado num cavalo branco – vai ser apeado. Ou sumido. Na última noite, o homem que vi pela primeira vez há mais de três décadas saudando solenemente uma falange de homens-rãs com uniforme negro a desfilar no alcatrão da Praça Verde, numa tórrida noite de Tripoli, durante uma parada militar de sete horas, parecia estar em fuga, por fim, perseguido – como os ditadores de Tunes e Cairo – pelo seu próprio povo em fúria.
As fotografias do YouTube e do Faceboock contavam a história com a realidade granitada e desfocada, fantasia tornada fogo no incêndio das esquadras da polícia em Benghazi e Tripoli, nos cadáveres e homens armados, numa mulher empunhando uma pistola apoiada na porta do  carro, na multidão de estudantes  - seriam leitores da sua literatura? – a partir a réplica em cimento do seu horrível livro. Tiros e chamas e vozes nos telemóveis; autêntico epitáfio para um regime que todos tivemos de suportar, de tempos a tempos.
E aqui está, só para aclarar ideias sobre desejos excêntricos, uma história verdadeira. Há poucos dias, quando o coronel Gadafi enfrentou a fúria do seu povo, teve um encontro com um velho árabe e gastou 20 minutos a perguntar-lhe se ele conhecia um bom cirurgião para fazer um lifting facial. Esta é – preciso de o dizer com este homem? – uma história verdadeira. O 'jovem' velho sentia-se mal com a face mole, balofa, simplesmente tolo, um actor de comédia numa tragédia nos últimos dias, desesperado com a caracterização; o último toque à porta do teatro.

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