terça-feira, 18 de janeiro de 2011

RUAS, VIELAS E BECOS

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A Câmara Municipal do Porto recusou a proposta do PCP de dar o nome de José Saramago a uma rua da cidade. Foi o escândalo, traduzido em múltiplos órgãos de comunicação social que papaguearam a conversa habitual. (Veja aqui alguns dos principais nacos de prosa a esse respeito).
Em carta, com data de 23 de Julho de 2010, Rui Rio explica o caso. Em síntese, diz o condensado nos seguintes excertos:

[...] Quando cheguei à Câmara do Porto existia uma Comissão de Toponímia constituída quase exclusivamente por Vereadores. Entendi então propor ao Executivo uma nova lógica e formar uma comissão apenas com personalidades de relevo da vida da cidade e oriundas das mais diversas sensibilidades políticas. Fi-lo na convicção de que a atribuição do nome de alguém a um qualquer espaço público deve ser não só fruto do conhecimento de quem sabe mais, como deve também representar o mais amplo consenso; justamente como forma de enaltecer e honrar tais personalidades.

A Comissão de Toponímia passou assim a actuar segundo critérios que os seus membros definiram, sendo de relevar, desde logo, que a sua opção dominante foi no sentido de apenas atribuir o nome de espaços públicos a personalidades já falecidas e que na sua vida tenham tido uma relação próxima com a cidade. Sempre respeitamos esta opção, sendo certo que, política e legalmente, até a podíamos contrariar. [...]

[...] A razão porque o Executivo entendeu não atender a proposta do PCP, de atribuir o nome de uma rua do Porto a José Saramago, é pois esta, ou seja, a inexistência de uma relação directa com o Porto.

Mas deixe que também lhe confesse, com toda a transparência, que, se não existisse a regra aqui referida, a minha consciência teria muita dificuldade em votar favoravelmente o nome de José Saramago para uma rua do Porto. Porque o Porto é uma terra de liberdade, E, por isso, a sua idiossincrasia não é compaginável com posturas de contorno intolerante ou, por exemplo, com os saneamentos políticos de jornalistas que o ilustre escritor promoveu no “Verão Quente de 75” enquanto director-adjunto do DN.

Perceberá V.Exa. que, para quem dá grande valor aos princípios democráticos, é muito difícil ultrapassar atropelos tão graves à democracia, mesmo que em nome de um elevadíssimo mérito específico como é o caso do nosso Prémio Nobel da Literatura.

Daqui envia "O Dolicocéfalo" as felicitações ao Presidente da Câmara do Porto pela sua inspirada resposta.
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Com agradecimentos a António Pedro Fonseca, fonte desta informação)
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