segunda-feira, 30 de agosto de 2010

LÍNGUAS DE POMBO CORREIO


Imagine-se a dizer ter ido em frente, virado à direita e voltado para trás dentro de uma grande superfície comercial desta maneira: fui para Leste, virei para Norte, mas voltei para Sul e para Oeste. Complicado? Depende da língua que fala.
Há línguas com sistema de coordenadas egocêntico, em que as coordenadas são os eixos frente/trás e esquerda/direita, e há línguas com sistema geográfico, por exemplo o Guugu Yimithirr de alguns aborígenes da Austrália, que funcionam com eixos Norte/Sul e Este/Oeste. O Guugu Yimithirrr é a língua melhor estudada, mas há mais com sistermas de orientação geográfica.
Perguntar-se-á: como sabem eles onde está o Norte dentro de uma cave, ou à escuras? Também não sei, mas sabem. Admite-se ser fruto de enorme treino desde crianças, que os faz manter permanentemente o sentido de orientação, indispensável para a linguagem. Eventualmente, como os pombos correios que viajam fechados em carros e comboios sem perderam a noção da coordenada do pombal.
Depois de terem entrado num hotel, percorrido vários corredores, subido no elevador, e entrado num quarto, podem dizer-nos: cuidado com essa aranha a Oeste do seu pé. E dois quartos opostos no mesmo corredor, com a cama à esquerda, a mesa à direita, e a TV ao fundo, são iguais para nós e diferentes para eles, porque a cama está a Norte, a mesa está a Sul e a TV a Oeste num quarto, e a cama está a Sul, a mesa a Norte e a TV a Leste no outro.
Complicado? Depende da língua que falamos! Acredita que eles não percebem essa coisa de atrás e adiante, ou à esquerda e à direita? Como podemos nós entender-nos, perguntam, se essas direcções estão sempre a variar com os nossos movimentos? Acha que é capaz de os esclarecer?
.

Sem comentários:

Enviar um comentário