quarta-feira, 25 de agosto de 2010

CAPA DO DIA


Volto à materia, embora me pareça não ter ela importância para o fazer. Mas indigna-me que jovens mobilizados para uma guerra em que não foram tidos nem achados, como Lobo Antunes foi, e cumpriram com generosidade e coragem o que se lhes pediu, sejam descritos da forma ignóbil como o escritor fez. Repito o que disse, em entrevista a um jornalista, porque não é de mais fazê-lo: No meu batalhão éramos 600 militares e tivemos 150 baixas. (...) Eu estava numa zona onde havia muitos combates e para poder mudar para uma região mais calma tinha de acumular pontos. Uma arma apreendida ao inimigo valia uns pontos, um prisioneiro ou um inimigo morto outros tantos pontos. E para podermos mudar, fazíamos de tudo, matar crianças, mulheres, homens.
Os ex-combatentes, em carta assinada pelo Presidente da Liga dos Combatentes, classificam as declarações de "insultuosas" e recordam que o batalhão do escritor esteve numa zona "de confrontos esporádicos" com o inimigo.
Posto perante a enormidade do que disse, o escritor não arrepia caminho e usa malabarismos de retórica para sair incólume da refrega que desencadeou, sem outra necessidade que não a de ser imprevistamente chocante. E diz em curto texto dirigido ao general Chito Rodrigues: Há uma falha no livro porque eu deveria ter dito que cada companhia teve 150 baixas ou que cada batalhão teve 600 baixas, tal como fiz no meu discurso na Batalha. Isto porque um pouco de todos nós, no melhor dos casos, morreu na guerra. Não se desce vivo de uma cruz.
O resto da carta que escreveu ao Presidente da Liga dos Combatentes é palha. Do que verdadeiramente indigna nas declarações feitas na entrevista, não fala; nem pode falar porque sobre isso só lhe resta retractar-se, dizer que as fez por puro exibicionismo intelectual, e apresentar desculpas a quem ofendeu. Mais nada.
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