quarta-feira, 23 de junho de 2010

O NAVIO ÍNDIA



Louvemos a Providência em humilde atitude: o Índia podia não ter fundo!
Mas não, o Índia é o nosso glorioso vaso, conhece o brasão heróico que usa, compreende a responsabilidade que arvora, vê que lhe cumpre sustentar o nome da Lusitânia, e portanto o Índia, com uma moderação que nos comove até às lágrimas, o Índia – mete apenas cinco polegadas de água por dia!
E todavia o Índia podia – quem lho impediria? quem ousaria coibir-lhe a nobre vontade? – o Índia poderia não ter casco! O Índia poderia não ter costado!
Mas não! o Índia sabe os deveres de todo o honrado transporte de guerra para com a Pátria que o emprega. O Índia – limita-se a meter apenas cinco polegadas de água por dia!
O Índia, o melhor navio que temos, o navio novo, expressamente feito para uso do País, comprado com madura reflexão, examinado com escrupulosa ciência, glória da nossa marinha, defesa das nossas colónias, garantia da nossa honra, o Índia, que sábias comissões aprovaram, que uma recta imprensa exaltou, que professores da escola normal celebraram, que custou muitas mil libras, que é novo, perfeito, impecável, o Índia – mete apenas cinco polegadas de água por dia!
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Eça de Queirós in "Uma Campanha Alegre" (Janeiro 1872)
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