terça-feira, 15 de junho de 2010

MAZARIN NO TERREIRO DO PAÇO

.


“Le Diable Rouge” é uma peça de teatro de Antoine Rault cuja acção se passa no fim da vida do cardeal Mazarin, Primeiro-Ministro do rei Luís XIV. Trata do esforço francês para pôr termo ao conflito com Espanha que arruinava as finanças do Estado.
Jean-Baptiste Colbert, que viria a ser o equivalente a Ministro das Finanças depois da morte de Mazarin, era na altura seu secretário e tem a páginas tantas da peça este diálogo com o cardeal:
.
Colbert: Gostaria que o Senhor Superintendente me explicasse como se continua a gastar quando se está já endividado até ao pescoço.
Mazarin: Quando se é simples mortal, claro, coberto de dívidas vai-se para a prisão. Mas o Estado... O Estado é diferente. Não pode meter o Estado na prisão. Então, continua e apaga a dívida. Todos os Estados o fazem.
Colbert: Ah,sim? Acha? Entretanto falta o dinheiro. E como encontrá-lo quando já se criaram todos os impostos imagináveis?
Mazarin: Criam-se outros.
Colbert: Os pobres não podem ser colectados porque já não são.
Mazarin: Sim, é impossível.
Colbert: Então, os ricos?
Mazarin: Os ricos também não. Deixariam de gastar. Um rico que gasta faz viver centenas de pobres.
Colbert: Então, que fazemos?
Mazarin: Colbert, raciocinas como um queijo! Há muita gente entre os dois, nem pobres, nem ricos... Franceses que trabalham, sonhando ser ricos e receando ser pobres! Esses, quanto mais se lhes tira, mais trabalham para compensar... É uma reserva inesgotável!!
.
Este trecho de “Le Diable Rouge” deve estar emoldurado, bem na frente de Teixeira dos Santos, em cima da secretária no Ministério das Finanças. Só que a arte refinou e Mazarin faria figura de bimbo se hoje lá entrasse.
.

Sem comentários:

Enviar um comentário