domingo, 20 de junho de 2010

CASTILHO - A LEITURA E A RESPOSTA REPENTINA

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Em Outubro de 1853, Castilho tem conhecimento de um folheto anónimo em que é criticado o seu método de leitura repentina. Era na altura Comissário Geral de Instrução Primária e, indignado, publica um texto de mais de 50 páginas a que chama “A Tosquia d'um Camelo”, dirigido aos professores primários portugueses. É violento e tem génio. Transcrevo a seguir um excerto.

[...] Aconselhavam-me aqui alguns amigos que deixasse chafurdar o javardo no seu lodaçal sem lhe atirar. Não pode ser. Ponderavam-me que uma resposta era o que ele mais cobiçava, para vender o seu folheto e gloriar-se de ter obtido de mim alguns momentos de atenção. Seja muito embora assim: quero-lhe conceder esse proveito e essa honra; mas hei-de-lhe deixar a cachola e os colmilhos pregados, como faziam os caçadores da idade média, por cima do portão da minha vivenda literária. Objectam-me a dignidade do cargo com que me honraram a nação, e o seu governo. Entendamo-nos uma vez por todas neste ponto. O funcionário não é só funcionário. Impassível como o deve ser no exercício das suas funções, ao sair delas reassume todos os seus direitos, todos os seus deveres de homem. Pode e deve desagravar o seu decoro, pleitear a sua justiça, zelar o nome que grangeou com honradas lidas. Que varão de sentimentos nobres aceitaria cargo honorífico, se pelo facto de se investir nele, ficasse como os emplumados, amarrado a um poste coberto de mel e com as mãos presas atrás das costas, para não esmagar nem enxotar os insectos e sevandijas, que lhe viessem poisar em cima? A troco de tal suplício não aceitara eu impérios, quanto mais comissões de instrucção primária. [...]
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