sexta-feira, 30 de abril de 2010

PERGUNTA IDIOTA


Quem surgiu primeiro: o ovo ou a galinha? Esta pergunta pretende ilustrar a questão que não tem resposta; mas é uma idiotice.
A galinha é o resultado evolutivo de galináceos antepassados do frango de aviário, incolor, inodoro e insípido. Tais galináceos foram evoluindo por mutações sucessivas ao longo de milhares de anos e niguém sabe quando surgiu a forma actual ou muito próxima do que chamamos galinha. Mas, de acordo com o que sabemos hoje, essa forma mutante começou por ser um ovo: as mutações exprimem-se primeiro nos ovos.
Logo, o ovo surgiu antes da galinha, se podemos falar de ovo e galinha como coisas diferentes.

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PORTUGUESE-MAN-OF-WAR

Sabia que há uma criatura chamada Portuguese-Man-of-War, parecida com a alforreca, mas que não chega a ser animal ou planta? É verdade! É um conjunto de muitos animais em associação. Mais precisamente, são quatro tipos de centenas de animais que formam uma estrutura a viver na superfície do mar, com uma “vela” de fora para se deslocar. O nome vem dessa “vela”, semelhante às velas triangulares das caravelas portuguesas. Habita as águas quentes das áreas tropicais e sub-tropicais do Pacífico e Índico e é conhecida pela dor provocada pela picada de quem a contacta.
É um agente de divulgação do nome de Portugal no mundo, em áreas turísticas, digo eu. Cada vez que um banhista/turista é picado, invoca o nome da nossa Ditosa-Pátria-Bem-Amada, a par de algumas interjeições que me dispenso de exemplificar.

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ARCA DE NOÉ

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No princípio da semana, um grupo de cristãos chineses afirmaram em conferência de imprensa que estavam 99,9% seguros de ter encontrado restos da Arca de Noé no Monte Ararat, na Turquia. Imediatamente surgiram os palpites dos especialistas: a madeira não é suficientemente velha, nenhum perito independente verificou o achado, não há sequer provas de que tenha ocorrido qualquer dilúvio, blá, blá, blá. É possível que a narração bíblica tenha como fundamento um fenómeno natural ocorrido de facto, como parece acontecer com outras. Mas ninguém sabe.
O Dr. Randall Price, professor de Estudos Judaicos na Liberty University e ex-membro do Grupo Internacional da Arca de Noé, explica: Não se exclui tratar-se de burla porque muito do que acontece na investigação daquela região é fruto da actividade dos guias curdos, verdadeira indústria de turismo para enganar gente ingénua. John Morris, do Instituto de Investigação da Criação e com 13 expedições realizadas no Monte Ararat, acha que os chineses foram enganados.
Não vale a pena, sequer, falar da possibilidade de ter alguma vez ocorrido um Dilúvio Universal, nem isso interessa muito em termos bíblicos. Pode ser uma lenda, como as que se encontram nas culturas da Babilónia, Grécia, Índia, Escandinavia, China, etc., algumas anteriores ao Velho Testamento. Mas terá na origem, provavelmente, qualquer coisa referida com exagero próprio de quem conhecia mal o mundo e os seus fenómenos físicos e geológicos.
Ao produzir-se o degelo da última glaciação, o nível do Mar Negro terá subido desmesuradamente devido à invasão de águas vindas do Mediterrâneo. Aqui está uma possível explicação para o fenómeno chamado Dilúvio Universal. Ou um tsunami, consecutivo à erupção do Etna ocorrida há 8.000 anos. Ou o inverno de 6 anos, depois de uma erupção que baixou 15 graus a temperatura média da Terra e a que só sobeviveram 10.000 seres humanos.
Não interessa o que foi, se foi. Também não interessa se os cavacos que os chineses alegadamente encontraram são de alguma Arca. Mesmo sendo, podem ser de outro bote qualquer. Esqueçamos isso. São tentativas infantis de documentar historicamente um livro que não tem nenhuma pretensão de ser um Tratado de História.


Dilúvio Universal, segundo Gustave Doré

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AS VÍRGULAS DA POLUIÇÃO


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Imagem do derrame de petróleo - ocorrido a Sudeste de Nova Orleães, na sequência da explosão numa plataforma petrolífera - obtida ontem pelo satélite Terra, da NASA. Com forma de duas vírgulas, a extremidade Noroeste do derrame quase chega ao Delta do Mississipi.

A ALTERNATIVA KARAMBA

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Gordon Brown está na mó de baixo – no último debate televisivo da BBC, as sondagens revelam que 38% da audiência achou Cameron melhor, 38% Clegg, e Brown bastante de rastos.
Saído dos estúdios, foi participar numa acção de campanha - o lançamento de um outdoor num parque de estacionamento – juntamente com nove membros do governo. Quando se preparava para perorar, eis que um Volkswagen Golf tem um quiproquó logo ao lado com um carro do lixo, despista-se e embate estrondosamente na paragem do autocarro. Os rapazes da comunicação social correm para lá em peso e Gordon fica a falar sozinho. Para tudo é preciso ter sorte! Ou azar!
O incidente ocorre dois dias depois da gaffe com a apoiante dos trabalhistas, de quem Brown disse, a respeito das suas convicções sobre a imigração e sem saber estar a ser escutado, ser uma fanática.
Quando as coisas começam a entortar, é uma espiga. Em tais circunstâncias, o Professor Karamba é uma hipótese em aberto.

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ANTEVISÃO PARA 2 DE MAIO


Polícia 5 - 3 Adeptos

quinta-feira, 29 de abril de 2010

O GÉNIO E A BESTA


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Em arte tudo é lícito, desde que seja superior. Não é permitido ao homem vulgar ser antipatriota, porque não tem mentalidade acima da espécie, e a não pode ter pois acima da espécie imediata, que é a nação a que pertence. Ao génio é permitido. Sucede, por ironia, que os grandes génios são em geral conformes com os sentimentos normais: Shakespeare era intensamente, até excessivamente, patriota. Um génio antipatriota é um fenómeno, não direi vulgar, mas aceitável. Um operário antipatriota é simplesmente uma besta.
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Fernando Pessoa

OS VIRTUOSOS E SERGEI PROKOFIEV

Concerto nº 2

Yuja Wang e a Orquestra Sinfónica You Tube

O INIMIGO POWER POINT


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Esta imagem é um slide da apresentação PowerPoint que o general Stanley McCrysthal, comandante das forças americanas e da OTAN em Cabul, mostrou no Verão, para exemplificar a dificuldade da estratégia americana. Parece mais um prato de esparguete!
Mas o general apressou-se a acrescentar: "Quando compreendermos este slide, ganhamos a guerra".

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FELIZMENTE...

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. ...há sempre um que discute.

ILITERACIA


Estão os portugueses preocupados com a situação financeira da Pátria? Estou convencido que não! Provavelmente porque não lêm jornais; ou não compreendem o que lêem; ou apenas pensam que são coisas para aqueles em quem votam. Como exemplo da camisa que vestimos, deixo a súmula de alguns textos jornalísticos de hoje, tudo escrito como segue - simples trabalho de copy and paste.
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A edição alemã do ‘Financial Times’ continha ontem a afirmação de que Portugal está a arder e o ministro das Finanças reconhece (finalmente) que a turbulência nos mercados vai continuar.
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Portugal, dentro de dias, terá de pedir emprestados cinco mil milhões de euros para refinanciar parte dos 182,7 mil milhões de euros do saldo de dívida externa. Por outras palavras, cada português deve 18,3 mil euros aos bancos estrangeiros, como o belga Fortis ou o ABN.
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O caldo está definitivamente entornado. A Grécia tem culpas no cartório, as agências de rating e vários gurus anglo-saxónicos também, Berlim e Paris estão a contribuir para o descalabro. Mas não adianta chorar. Nós também não fizemos bem o trabalho de casa. Em tempo de guerra, não se limpam armas. Tomam-se medidas. Sugerem-se cinco para resolver o nó górdio que enfrentamos, assente na nossa incapacidade de exportar e de poupar.

1. CONGELAMENTO E DESCIDA DA DESPESA PÚBLICA
2. SUSPENSÃO DE TODOS OS GRANDES PROJECTOS
3. CONCENTRAR TODOS OS APOIOS NA EXPORTAÇÃO
4. REMUNERAR BEM A POUPANÇA INTERNA
5. AUMENTAR O IVA, CONGELAR O 13º MÊS

São medidas duras? Não, são duríssimas. Mas a alternativa, face à tempestade perfeita que está formada sobre as nossas cabeças, é muito pior. Assim, ainda somos nós que controlamos o gatilho e disparamos enquanto jogamos à roleta russa. De outro modo, é alguém a carregar sucessivamente no gatilho até nos meter uma bala na cabeça.
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O Expresso tinha avançado que o Governo adiou a assinatura do contrato para a construção da auto-estrada do Pinhal Interior mas o Ministério das Obras Públicas, após ter recusado responder ao Expresso, desmentiu categoricamente a informação e diz agora que vai avançar com a obra, orçada em 1200 milhões de euros.
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O que choca no meio disto tudo é ver como um ex-presidente da CMVM, que por definição conhece os mercados, actua como um analfabeto em questões financeiras. Ignorando que a subida das taxas vai colocar o serviço da dívida, em 2010, acima dos 7 mil milhões de euros (no OE estão inscritos 5,5 mil milhões). O suficiente para pagar dois aeroportos de Lisboa. E ignorando que tudo isto pode ser um rastilho para um ataque sério à República e à confiança dos aforradores.

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Que drama!...
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quarta-feira, 28 de abril de 2010

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ACASO

O acaso é um poder maligno, no qual se deve confiar o menos possível. De todos os doadores, ele é o único que, ao dar, mostra ao mesmo tempo e com clareza que não temos direito nenhum aos seus bens, os quais devemos agradecer não ao nosso mérito, mas tão-só à sua bondade e graça, que nos permitem até nutrir a esperança alegre de receber, no futuro e com humildade, muitos outros bens imerecidos. Eis o acaso: mestre da arte régia de tornar claro o quanto, em oposição ao seu favor e à sua graça, todo o mérito é impotente e sem valor.

Arthur Schopenhauer

In 'Aforismos para a Sabedoria de Vida'

FESTA EM BARCELONA

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(Corriere della Sera)

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RESUMIR E PROCEDER EM CONFORMIDADE

O ataque de que Portugal está a ser alvo, medido pelo aumento significativo dos ‘spreads' das obrigações emitidas pelo Estado português, é injusto, mas não adianta nada continuar a focar as atenções da resposta nas críticas aos especuladores, que são apenas investidores quando acreditam no nosso país. O que está em causa é que o mercado duvida da capacidade do país e do Governo de levarem até ao fim um plano sério e rigoroso de redução do défice e da dívida pública.

António Costa,
Director do Diário Económico

O parágrafo é lapidar. Os jornais estão hoje cheios de prosa mastigada sobre a situação financeira portuguesa. Paradoxalmente, não há muito a dizer sobre ela. Aí em cima está tudo o que se pode referir com utilidade. Mais só serve para levantar pó, encobrir responsáveis e adiar soluções.
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terça-feira, 27 de abril de 2010

EL ODIO DE LA MISERIA MORAL


Em 1990, Mandela foi libertado por Frederik de Klerk e tornou-se líder do ANC. Foi notória a sua preocupação em não mexer na ferida do apartheid para que a África do Sul entrasse de forma pacífica na nova ordem.
Mereciam os responsáveis pelo apartheid ser chamados à pedra? Seguramente que sim. Mas Mandela avaliou a relação benefício/prejuizo de não perseguir ninguém e decidiu esquecer. Atitude juridicamente errada, e social e politicamente louvável, própria de homem com estatura moral acima do comum.
A História tem muitos exemplos louváveis. Em 1978, Ramalho Eanes permitiu o regresso a Portugal de Américo Thomaz, exilado no Brasil com 84 anos. E em Espanha, em 1977, o parlamento aprovou a amnistia geral para os crimes do franquismo para pacificar a entrada na democracia.
Mas há sempre os legalistas quadrados, ressabiados, recalcados e frustrados que não percebem, ou resistem a perceber estas coisas. Baltazar Garzon é um deles – não descansa a pôr meia Espanha contra a outra metade. E o governo de Zapatero também não, mais preocupado com detalhes ideológicos que com a matéria real do bem estar dos espanhóis.
Estas reflexões foram-me sugeridas por um artigo de Herman Tertsch publicado hoje mesmo e que pode ler
clicando aqui. Tertsch é jornalista destacado em Espanha, tendo trabalhado no El País, de que se desligou por discordância com a linha editorial.

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PAUSA MUSICAL

Johann Sebastian Bach

SANDINO É O MAIOR

Os homens comem, mesmo quando não têm fome, para a evitar nas horas seguintes em que não podem comer. É a capacidade de prever o futuro, própria e exclusiva do Homo sapiens. Será?
O chimpanzé Sandino, do Zoo da Suécia, atira projécteis aos visitantes que se juntam em volta das suas instalações desde 1977. Reacção hostil instintiva e irracional desencadeada por todos aqueles basbaques a olhar para ele? Há dúvidas.
É que, quando estes chegam, já ele está preparado com munições armazenadas em vários esconderijos do seu habitat horas antes do Zoo abrir. São pedras e bocados de cimento. Quando estes lhe parecem de tamanho excessivo, Sandino parte-os em fragmentos mais pequenos para não desperdiçar matéria prima sem vantagem. Rentabiliza as munições. Tem vários esconderijos e vai variando para despistar os tratadores.
Sandino, nascido em 1978, tornou-se o único macho em 1994, depois de morrer o macho dominante até aí. Durante três anos, manteve o comportamento anterior. Em 1997, mudou e aí está ele a mostrar às fêmeas que é o maior!
De acordo com o investigador sueco Mathias Osvath, da Universidade de Lund, é a prova de que os símios consideram o futuro de forma muito complexa. Planeamento não instintivo, ignorado até agora. Curioso:

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Por um lado, a previsão de que vêm aí os basbaques e a preparação do apedrejamento.
Por outro, o significado que isso tem, em termos de comportamento “social” entre a sua comunidade. Só começou a exibir-se perante as fêmeas quando ficou só: Santino forte. Santino bravo. Santino protector. Santino atira pedras aos basbaques. Santino faz agressor fugir. Santino bom macho.

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Coisa mais humana não há.

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MY GAME IS FAIR PLAY


De acordo com o site da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, “O futebol é um desporto competitivo, onde o objectivo é derrotar a oponente, por forma a obter a glória, o reconhecimento da superioridade frente aos adversários, mas também o respeito dos adeptos, dos media, dos patrocinadores, dos organizadores e de todos os públicos que constituem o global do futebol”.
Os adeptos também têm regras a cumprir, manifestando alegria contida com as vitórias dos seus clubes e tolerando o humor bem achado dos rivais. Por isso, reproduzo o texto da autoria de Vítor Elias, publicado n’ “O Inimigo Público”.
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O Benfica sagrou-se, pela primeira vez, campeão europeu de futsal, ou seja, de futebol de 5. Esta conquista em miniatura foi festejada, não na monumental estátua do Marquês do Pombal (onde os benfiquistas celebram os títulos de futebol a sério, de 7 em 7 anos), mas junto à pequena estátua do Eça de Queirós, ali para os lados do Chiado. De referir que todos os 6800 adeptos do Benfica que presenciaram a vitória no Pavilhão Atlântico esperam que o Benfica se sagre mais uma vez campeão europeu de futsal, já para o ano, para poderem passar os próximos 50 a falar dessas conquistas aos filhos, como os próprios pais fizeram com eles, só que falando de futebol de jeito.
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Tem piada e não ofende.

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MADAME INÊS DE SAINT-MAURICE DE ESTEVES DE MEDEIROS VITORINO DE ALMEIDA É UMA FIDALGA SOCIALISTA


O problema das viagens a Paris da deputada Inês de Medeiros já devia estar estafado, dada a insignificância da pessoa em causa e a mesquinhês embrulhada na petulância da Madame. Mas o seu valor, como facto iconográfico da actual gestão socialista do País, deve mantê-lo logo abaixo do cabeçalho de todo o escrito que se produza na República. Por isso, se publica aqui a carta de António Borges de Carvalho dirigida à Senhora.


Excelentíssima Senhora Deputada Dona Inês de Medeiros,
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Chère Madame
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O IRRITADO teve, aqui há umas semanas, o topete de escrever uma carta a Vossa Excelência sobre a importante matéria das viagens semanais de Vossa Excelência, em classe executiva, a Paris, luminosa quão merecida cidade de residência de Vossa Excelência.
Permite-se agora o cullot de voltar à augusta presença de Vossa Excelência. Antes de mais, portanto (como diria o camarada Jerónimo), as mais humildes desculpas pelo atrevimento deste seu servo e amigo.
Tem o IRRITADO seguido, com a admiração e a estima que, no fundo da alma, nutre por Vossa Excelência, as vicissitudes por que tem passado a história do ingente problema que a aflige: quem paga as viagens de Vossa Excelência a Paris? Sim, Quem?
Parece que ninguém!
Anda meio mundo preocupado com o assunto, sendo o mais aflito de todos Sua Excelência o Senhor Deputado José Lelo[i], mui Ilustre Presidente do Conselho de Administração da Assembleia da República, entidade a quem, sem sombra de dúvida, caberá mandar pagar as viagens de Vossa Excelência.
Ora, como é sabido, o insigne cidadão tem várias dificuldades do tipo mental, coisa de que não terá culpa, uma vez que já nasceu assim. Daí que, por mais voltas que dê ao limitado bestunto com que foi brindado pela criação, não consegue encontrar o competente penduricalho orçamental onde caibam os 1.200 euros que custa cada viagem/semanal em executiva (luxo!) de Vossa Excelência.
Em que triste miserabilismo vive a Pátria do Senhor Dom João V!
Se Vossa Excelência andar por cá uns 10 meses por ano, teremos umas 45 viagens, o que, contas feitas, se cifrará nuns meros 54.000 euros, ou seja, em moeda antiga, uns míseros 10.826.028.000 réis. Em 4 anos de mandato, a coisa não passará, como é evidente, de 43.304.112.000 réis, ou, em moeda republicana, 43.304 contos mais uns pós.
Tem Vossa Excelência toda a razão quando, solene e superiormente, declara "não sei quem paga nem quanto custa". Era o que faltava, Vossa Excelência preocupar-se com problemas destes, coisa para lelos e quejandos, gente de somenos. Vossa Excelência não sabe, nem tem que saber, o valor em jogo. "Nada disso passa por mim", declarou. Mais. Vossa Excelência, como é de timbre entre os socialistas, não se preocupa com o assunto. "Escolhi uma (agência de viagens), e passei a marcar por essa: telefono e recebo os bilhetes". É assim mesmo! A altíssima dignidade de Vossa Excelência não permite, sequer, que erga o mimoso cul da poltrona para tratar de coisas menores. Como é óbvio, alguém traz o bilhete, alguém há-de pagar, Vossa Excelência não desce a problemas de lelos. Viaja, e acabou-se. Muito bem!
Teve o IRRITADO a desfaçatez, na sua anterior missiva, de suscitar a curiosidade de Vossa Excelência para o facto de haver cidadãos - ainda que, como é lógico, gente de qualidade inferior à sua - que fazem Lisboa/Paris/Lisboa por uns 150[ii] euros, no mesmo avião que Vossa Excelência utiliza, mas lá para trás, com o cul não tão à larga e sem champanhe nem refeição quente.
É certo que Vossa Excelência não tem que descer ao ponto de aceitar sugestões do IRRITADO. Não pode este, porém, deixar de, com todo o respeito, dizer que, se Vossa Excelência o fizesse, o Lelo gastaria 14,5 vezes menos do que vai acabar por gastar com as viagens de Vossa Excelência.
Tudo isto não passa, como é evidente, de fruto da mentalidade capitalista do IRRITADO, coisa incompatível com a majestática dignidade socialista de Vossa Excelência.

20.3.10

António Borges de Carvalho

[i] Lelo - doido, vaidoso (Dicionário Universal da Língua Portuguesa, Texto Editora).
[ii] Algo me diz que Vossa Excelência, antes de subir ao altar doirado em que se encontra, viajava por 150 euros, como a plebe. Agora, já nem quer saber quanto custa, ou custava, a sandocha e o assento apertadinho. Pois faz Vossa Excelência muito bem! Socialisme oblige.

(Texto enviado por José Fontinha)

PRIMAVERA

Jardim de Maria Leontina

Música de Johann Strauss (Vozes da Primavera)

segunda-feira, 26 de abril de 2010

A ESPIRAL DA AMBIÇÃO

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Certo dia uma rica senhora viu, num antiquário, uma cadeira que era uma beleza. Negra, feita de mogno e cedro, custava uma fortuna. Era, porém, tão bela, que a mulher não titubeou - entrou, pagou, levou para casa.
A cadeira era tão bonita que os outros móveis, antes tão lindos, começaram a parecer insuportáveis à simpática senhora. (Era simpática).
Ela então resolveu vender todos os móveis e comprar outros que pudessem se equiparar à maravilhosa cadeira. E vendeu-os e comprou outros.
Mas, então a casa que antes parecia tão bonita, ficou tão bem mobilada que se estabeleceu uma desarmonia flagrante entre casa e móveis. E a senhora começou a achar a casa horrível.
E vendeu a casa e comprou uma outra maravilhosa.
Mas dentro daquela casa magnífica, mobilada de maneira esplendorosa, a mulher começou, pouco a pouco, a achar seu marido mesquinho. E trocou de marido.
Mas mesmo assim não conseguia ser feliz. Pois naquela casa magnífica, com aqueles móveis admiráveis e aquele marido fabuloso, todo mundo começou a achá-la extremamente vulgar.


Millôr Fernandes, in "Pif-Paf"

MÚSICA DECORAÇÃO

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HÁ 73 ANOS




Às 16H45 do dia 26 de Abril de 1937, corria a feira semanal em Guernica e a Guerra Civil Espanhola, quando o inferno se abateu sobre a aldeia: levas de aviões alemães Heinkel -11 bombardearam e metralharam a povoação durante mais de duas horas, matando 1.654 e ferindo 889 dos seus 7 mil habitantes. Hitler, aliado do general Franco, quis assim aterrorizar a população civil e fazer uma demonstração do seu poder aéreo. Dias depois, diria: "Todos vocês sabem que na Espanha não nos situamos como meros observadores desinteressados".
A indignação correu mundo e levou Pablo Picasso a pintar a obra que ficou como ícone dos excessos cometidos em Espanha naquele período medonho. Quando, perante o quadro, um oficial alemão irritado lhe perguntou se tinha sido ele que havia feito aquilo, respondeu: “Não. Foram vocês”.

BROWN VS CLEGG

O sistema eleitoral britânico permite que um partido com menos votos que qualquer dos outros tenha mais deputados no parlamento, possa indicar o primeiro-ministro e formar governo. Tal está iminente após as próximas eleições de 6 de Maio. O Partido Trabalhista e Gordon Brown estão perfilados à espera disso.
Mas, sem maioria, vai ser difícil governar. É aí que surge o florescente Nick Clegg e o Partido Liberal, capaz de ser o partido mais votado em termos absolutos. Contudo, Clegg já fez saber que pode ser aliado dos trabalhistas... sem Brown! Gordon Brown, pelo visto, lido e ouvido, não faz o género dele.
Rezam as crónicas que Brown é uma geba. Melhor dizendo, um brutamontes. Não vai ser fácil ao seu partido correr com ele para arranjar um acordo com Clegg. Isto é que vai ali uma crise!...

PRAIA

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CALMA E ESTUPIDEZ NATURAL


O que faz falta é estar sereno e ter muita lata. Armando Vara foi corrido do governo socialista depois do escândalo da Fundação para a Prevenção e Segurança por pressão de Jorge Sampaio, então Presidente da República. Daí decorreu um explicável ódio da primeira personalidade.
Pois a individualidade em apreço, interrogado na Comissão de Inquérito do Parlamento sobre o envolvimento no caso da compra da TVI, parafraseou Sampaio declarando que “há mais vida para além do negócio PT/TVI”. Não é original no estilo e é rasca na falta de vergonha – mas exige lata.
A respeito do conteúdo conhecido das escutas, abordado pelo Bloco de Esquerda, sugerindo que teve envolvimento no assunto, resumiu: “Sei que há qualquer coisa que sugere isso, mas não tive”. O que é preciso é ficar sereno e despachar a bola ao primeiro toque – mesmo que seja para fora.

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ALMOFADA VERMELHA

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domingo, 25 de abril de 2010

25 DE ABRIL

No dia 25 de Abril de 1953, num artigo da revista Nature, é descrita pela primeira vez a estrutura, com dupla hélice, do ácido desoxiribonucleico (ADN), suporte do património genético dos seres vivos. A revelação foi feita pelo biologista americano de 24 anos Jim Watson, e pelo físico britânico Francis Crick, de 36, que explicaram como se faz a reprodução das células e como estas transmitem as características genotípicas e fenotípicas à descendência. Receberam o Prémio Nobel da Medicina e Fisiologia em 1962.
O conhecimento da estrura do ADN foi fundamental para a Biologia actual. Recorde-se que a vida começou com o aparecimento da primeira molécula de ADN, pois o que a caracteriza é a capacidade de reprodução, coisa diferente de multiplicação. Na reprodução, o novo ser recebe as características do reprodutor por mecanismo bioquímico activo em cujo centro está o ADN.
ADN é vida, com capacidade de evoluir até ao Homo sapiens, que ufanamente se considera a obra suprema da biosfera. Presunção e água benta...

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O REPOUSO DO GUERREIRO

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. Um soldado israelita refresca-se, enquanto guarda um helicóptero AH-64 Apache na base da Força aérea de Hatzerim

FIM DE FESTA

O ministro alemão dos negócios estrangeiros resumiu a situação com a Grécia: "Não lhe vamos passar um cheque em branco". O ministro das finanças foi um nadinha menos sintético: "O facto de, nem a EU, nem o governo alemão, terem tomado decisões sobre a ajuda, significa que a resposta pode ser positiva ou negativa – tudo depende da política da Grécia nos anos que vêm".
A ministra das finanças francesa também lançou avisos: "Vamos estabilizar a Zona Euro, mas isso não exclui firmeza e atenção aos resultados da política grega. Não libertaremos a totalidade da ajuda imediatamente. Fá-lo-emos à medida das necessidades e, ao menor sinal de incumprimento, accionaremos de imediato o travão".



A festa grega chegou ao fim. Pelo menos aquele tipo de festa. Agora a festa é outra - a que vemos em cima, em escaramuças entre funcionários públicos e a polícia. É um aviso para Portugal. O melhor seria começar já a arrumar o palanque festivo e as nossas cabeças. Lê-se hoje no Jornal de Negócios:
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Quando António Guterres chegou ao Governo o peso da nossa dívida pouco passava dos 10% do PIB. Agora anda nos 120%. 15 anos de estímulo do consumo, de projectos megalómanos do Estado, de negócios de interesse duvidoso para os contribuintes, ajudaram a chegar onde estamos.
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Com mais um aeroporto, um TGV, algumas auto-estradas e outras minudências “gregas”, chegaremos muito mais longe. Para a frente é que é o caminho...
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TEMPLO IMENSO

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Monges tibetanos em prece pelas vítimas do terramoto de Gyegu.

QUANDO O VERNIZ ESTALA


O governo britânico já pediu desculpa ao Vaticano pelo documento posto a circular pelo Foreign Office a respeito da visita do Papa ao Reino Unido em Setembro. Nele se sugere que Bento XVI inaugure uma clínica para a prática do aborto, celebre um casamento entre homossexuais, e lance o preservativo benzido. Também recomenda a gravação de uma canção com a Rainha para fins caritativos, peça desculpa pela Armada Invencível, e force os bispos ingleses a financiar a linha de apoio às crianças abusadas por clérigos católicos.
Parece anedota, mas não é. O documento, intitulado The Ideal Visit We Would Like to See, foi anexado a um email com o assunto “Planeamento Prévio da Visita do Papa” e elaborado, segundo o Foreign Office, por três ou quatro elementos juniores do gabinete que prepara a visita papal.
Tudo bem! É a marca do tempo actual, não é?
Não é!...
Durante anos, alimentámos a ideia de um Foreign Office competente na ordinarice, contido nas manifestações de total falta de respeito por tudo que não fosse britânico, um antro de impostores com pergaminhos. Agora o verniz estala ao som do Rap, as profundezas viscerais da instituição aparecem tal qual são, e ao mundo cheira a escândalo.
Não há escândalo nenhum – vale mais um ordinário bem identificado, que um sacana disfarçado de gentleman. Os três ou quatro elementos juniores do staff que lá trabalham sempre lá estiveram.

O CARTOON DO SAPO NOTÍCIAS

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Inês de Saint-Maurice de Esteves de Medeiros Vitorino de Almeida
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sábado, 24 de abril de 2010

LIVRO É SÍMBOLO


Tenho a convicção de que o livro é um instrumento em extinção do estrito ponto de vista material, vítima dos novos suportes da escrita; eventualmente, nem sempre mais eficazes, mas do lado da moda e com algumas vantagens de funcionalidade acrescida. O livro não é no presente o objecto com ideias, mas antes a ideia das ideias compiladas, ordenadas e arquivadas. O termo passou a ter outro significado, adquiriu nova nuance. Por isso, o texto de Jorge Luís Borges, que se transcreve de seguida, é de todo actual, se visto por este prisma. Em boa verdade, nos tempos que correm, a Biblioteca de Alexandria podia ser metida no 3º-Dt do prédio 57 da Travessa do Fala-Só. Muda a forma, mas salva-se o conteúdo. Perde-se o objecto, o que é triste, mas preserva-se o símbolo.

Dos diversos instrumentos do homem, o mais assombroso é, indubitavelmente, o livro. Os outros são extensões do seu corpo. O microscópio e o telescópio são extensões da vista; o telefone é o prolongamento da voz; seguem-se o arado e a espada, extensões do seu braço. Mas o livro é outra coisa: o livro é uma extensão da memória e da imaginação.
Em «César e Cleópatra» de Shaw, quando se fala da Biblioteca de Alexandria, diz-se que ela é a memória da humanidade. O livro é isso e também algo mais: a imaginação. Pois o que é o nosso passado senão uma série de sonhos? Que diferença pode haver entre recordar sonhos e recordar o passado? Tal é a função que o livro realiza.
(...) Se lemos um livro antigo, é como se lêssemos todo o tempo que transcorreu até nós desde o dia em que ele foi escrito. Por isso convém manter o culto do livro. O livro pode estar cheio de coisas erradas, podemos não estar de acordo com as opiniões do autor, mas mesmo assim conserva alguma coisa de sagrado, algo de divino, não para ser objecto de respeito supersticioso, mas para que o abordemos com o desejo de encontrar felicidade, de encontrar sabedoria.


Jorge Luís Borges, in 'Ensaio: O Livro'
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MAIS UMA CABAZADA

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Falta um!

O RANGER DE LANSERIA (ÁFRICA DO SUL)

(As imagens foram-me enviadas por João Brito)

PINGOS DE LISBOA